Teachers of the world

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Quando as pessoas compartilham experiências, elas estão inspirando mudanças.

 

"Sempre que eu pensava em trabalho eu pensava que isso não pode ou não poderia ser uma coisa que se volta só pra mim. Tinha que ter um respaldo maior, atender a mais de uma pessoa, além de mim. É claro que isso não incluía eu ser um vendedor, por exemplo de fast food, não se tratava apenas de relacionamento com qualquer público. Tinha que ser uma coisa que de fato contribuísse com as pessoas. Dentro da minha formação, que é a filosofia, o caminho mais possível é dando aula. Sempre que penso em trabalho, acredito que o melhor seria uma situação que pudesse me gerar renda e ainda pudesse permitir que eu ajudasse alguém.

 

Se eu fosse descrever minha trajetória como professor em um filme, seria um drama e se passaria em algum país na África. Um curta metragem resolveria, mas sempre dá pra explorar um longa metragem dessa experiência. Acho que o enredo contaria a história de uma pessoa que nunca se viu nessa profissão de ensinar, caiu de paraquedas por alguns ideais, pensava em contribuir socialmente, mas conforme foi vivendo essa experiência percebeu que isso não seria tão simples. Tem uma trajetória curta, depois surta com a vida profissional e some por alguns anos e mais para frente, num futuro próximo, retorna com algo mais interessante para contribuir.

 

Durante a graduação a coisa é maravilhosa, você acha que pode tudo. Quando você chega numa experiência educativa mesmo, aí a experiência é outra. Não é entretenimento, é educação.

 

E é tão difícil, sabe? Muitas vezes, esses espaços são vistos como espaços de mera diversão. Se você tem uma ideia que pode transformar a percepção daquelas crianças ou adolescentes, eles acham isso chato, porque você está inserido num espaço que não teria essa pretensão. Então você tenta unir a diversão a essa proposta de educação, de crítica. Você cria projetos e mesmo assim, muitas vezes, não funciona. Pede ajuda para a instituição e ela também não te ajuda. São muitos entraves. A experiência educativa é o espaço em que o seu ideal é colocado à prova o tempo todo. Você esbarra em dificuldades estruturais e humanas. O que te faz acordar todo dia não é dinheiro, mas ainda é aquele ideal, é você acreditar que esse trabalho ainda é melhor, mais útil e mais necessário que trabalhar em outras áreas. Há muitos ganhos humanos envolvidos.

 

Às vezes, eu sentia que os outros educadores rezavam para que ninguém aparecesse com uma ideia nova, porque isso dá muito trabalho. As pessoas estão cansadas e desgastadas e acabam não querendo dar passos além daqueles que já estão habituadas. Porque muito já foi tentado, é importante pensar nisso também. Tem problemas do educando, do educador, da coordenação, do Estado, etc. A solidão do educador é uma realidade. Tem momentos que, para criar algo diferente, você tem que fazer isso escondido, porque você sabe que isso pode ser cortado na raiz. Então você faz sozinho e se der certo, você compartilha. Sinto que, pela falta de suporte, as pessoas começam a querer cada vez menos trabalho. Em alguns lugares, você tem um incentivo, respaldo material, etc. Mas na grande maioria dos lugares, nada disso está garantido.

 

Muitas vezes falta um pouco de maturidade, de entender que existem diferentes formas de caminhar com a educação. As pessoas que atuam de maneira diferente vão sendo colocadas à prova, marginalizadas e, quando você menos espera, aquele educador foi cortado do projeto.

 

Acredito que a imagem que a sociedade produz dos professores tem muito a dizer dessa dificuldade de que as informações e conquistas da prática educacional transitem no discurso das pessoas. Eu acho que existem várias opiniões sobre o que é ser professor, eu espero que existam. Sei que existem pessoas que olham e pensam 'Ah, coitado'. Algumas pessoas sentem pena, diante de 'uma formação tão boa, sendo desperdiçada'. Mas existem outras opiniões. Pessoas que trabalham, que atuam com educação veem muito valor nisso. Eu gosto muito de ver boas experiências com educação, gosto de saber que pessoas estão educando. Mas eu acho que, de fato, é uma comunidade de pessoas que conseguem se admirar.

 

A grande massa das pessoas não enxergam com bons olhos. Isso se deve à imagem de professor no Brasil: pessoas com baixos salários, que enfrentam estruturas de trabalho precárias, enfrentando um sistema ideológico contrário à sua atuação, se tornam pessoas, por assim dizer, profissionalmente pouco atraentes. O status de professor é um status solitário. O diálogo entre professores é revolucionário nesse sentido: quando as pessoas compartilham experiências, elas estão buscando inspirar a mudança.

 

Mas a gente aprende muito dando aula, tanto sobre a diversidade de pensamentos e desejos. Você está diante de um monte de perspectivas diferentes da sua. Aprendi maneiras de acessar essas pessoas, que são diferentes. Tem pessoas que precisam de um tom de voz, outras de outro, outras precisam que você desenhe. Você tenta se adaptar a cada aluno. É difícil porque a gente tem alguns limites. Por exemplo, essa coisa de ordem na sala. É complicada. Você precisa de um nível mínimo de ordem pra começar, aí você se pega sendo um ditador e dizendo que é hora de todo mundo ficar quieto, isso parece mais fácil do que tentar acessar cada um deles individualmente. Eu patinei muito com isso.

 

Algumas coisas eu entendi melhor depois que eu parei de dar aulas. São experiências que vão ganhando forma depois. Eu aprendi muito sobre mim, sobre os meus limites como pessoa. Eu acabei me tornando uma pessoa menos aberta, mais prático, mas num sentido ruim de ser prático. Eu me vi desprezando algumas ideias para que eu conseguisse alcançar alguns objetivos, conduzindo as coisas de uma maneira pragmática. Houve essa transformação em mim.

 

O que eu desejo para as crianças com quem dividi essa experiência é que elas tenham 'alargado' a percepção. Que elas possam vivenciar e experimentar coisas que ainda não tiveram oportunidade. Eu acho que a educação precisa disso, se não você acaba criando currículos cada vez mais enxutos, que condicionam as crianças a alcançar os mesmos objetivos, que podem não ser os delas. Eu penso que o caminho é outro, é mostrar todas as possibilidades para que as escolhas possam ser feitas com base em mais experiências. Eu espero que o futuro inclua fazer escolhas, que essas crianças tenham opção, ou que pelo menos entendam que elas podem ter opções e que lutem por isso."

 

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